terça-feira, abril 17, 2007

Priminha diabinha

Era novidade porque ela estava esperando o almoço na mesa junto com os adultos. A avó encheu o seu pratinho com uma gororoba esquisita e ela não reclamou, acho que no mundinho dela ainda não existia isso de protestar pela comida que se deseja. Pegou um garfo - estavam todos conversando - e pôs-se a misturar e esmagar a comida, sem sequer provar.
Eu só assistia à cena, eu era uma intrusa. Achava lindo tudo o que aquele anteprojeto de gente fazia. Tinha três anos e falava que nem gente grande. Parecia mais uma amostra de diabinho do que um anjo, e por isso mesmo era a coisa mais bonita e gostosa do universo.
De repente, alguém da mesa berra: "Quero ver você raspar esse prato logo, menina!".
Fiquei admirando o poder ultrajovem. Melindrosa, fez que ia comer e voltou a amassar a comidinha, sem a menor intenção de pôr uma garfada na boca.
Perguntei discretamente: "Você não está com fome?" e ela disse: "Eu não gosto de bacalhau não".
Foi o suficiente pra eu sentir a Madre Teresa soprar a humanidade do mundo em meu ouvido. Recorri a psicologiazinhas baratas e aos extremos de como eu mesma fui criada, exatamente ao contrário, à base do “não quer, não come, mas só tem isso”.
Então me virei para ela:
- O que você quer comer?
- Feijão com purê.
- Só?
- Só.
- Você gosta mesmo? E vai comer tudo mesmo?
- Vou.
Peguei um pratinho e implorei: “Deixa, tia, ela gosta de feijão e purê. Põe só um pouquinho. Ela vai comer”.
Ouvi vários muxoxos: “Ela faz isso todo dia, não vai comer nadinha”.
- Oh, vai sim – respondi.
Adivinhem?
Esqueci o diabinho por dois minutos e quando olhei, lá estava ela a inventar uma pasta goguenta, furando os grãos de feijão com os dedinhos.
- Sua moleca, não disse que ia comer?
Não me respondeu.
Alguém berrou que ela fosse perturbar outra freguesia, que significava almoçar na casa da mãe, pertinho dali.

*

Meu avô começou a contar uma história de quando teve que olhar os filhos malcriados de um amigo. Chegou na casa dele na hora do almoço e assitiu à bárbarie, pai e mãe se descabelando para alimentar quatro ferinhas - uma escadinha onde o maior tinha seis anos.
Virou-se tranquilamente para o amigo e perguntou:
- Fulano, você não tinha que comprar alguma coisa no mercado?
- Sim, eu...
- Pois então vá e leve sua senhora, que eu fico aqui olhando as crianças.
O casal saiu, bastante agradecido, e meu avô esperou eles baterem a porta para começar a sua psicologia.
Tirou o cinto e surrou a mesa de madeira, que fez um barulho estrondoso. Disse apenas: “Quero quatro pratos limpos agora.”
Em menos de cinco minutos surgiu tanto apetite que as tigelinhas de metal reluziam de tão limpas.
Os pais, quando chegaram, ficaram incrédulos, maravilhados: “Puxa, que coisa fantástica, nem Deus pra alimentar essas pestinhas”.
“Naquele tempo em que não tinha essa coisa de direitos humanos era mais fácil educar as crianças”, terminou vovô, com essa pérola.

15 comentários:

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

A do avô foi a melhor de todas

Disparado...

rsrssr

Anônimo disse...

essa psicologia e que eu vou usar cmo meus filhos... e como funciona!! rs rs

Anônimo disse...

Seu avô é um sábio!

Anônimo disse...

É Jo, sempre me identifico com seus textos e ao ler eles, acabo de me lembrar 2 epsodios de minha infância...
mt comédia, te conto com mais calma uma outra hora.
adorei
um bj

Anônimo disse...

Epsodio 1
Eu era guriazinha msm, toco de gente...
estava na casa de minha vó almoçando, quando de repente ela me serve carne e peixe.
eu ao ver aquele cena, resmungando digo:
-Mas vó, carne n combina com peixe!!!
pense numa pequena ousada?
uahuahuahuahuhauhau

Anônimo disse...

Epsódio 2
Estava na fazenda de meu avô, tinha uns 3 anos, por aí, sempre fui mto chorona, meu avô dizia que menino q dava "calundú" ele ia com 2 dedos e batia na bunda.
Certo dia ele veio pra me bater, mas por sorte consegui escapar.
Depois disso fiquei traumatizada e n queria mais voltar na fazenda, quando voltei pra cidade e encontrei com minha vó ela me perguntou:
-Ísis , seu avô te bateu?
eu repondi:
-não, mas quaaaaaaaaaase!
hahahaha pense? um cotoco de gente falando isso!
uahuahuahauhauhauhauha comédia.

joanarizerio@gmail.com disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkk

bueno, me lembrei de uma história que merece ser contada também.

eu tinha uns seis anos e estava saindo de salvador de carro com minha mãe, em direção a guarajuba, se não me engano, passando por um lugar onde tem uns comércios estranhos, "o rei da pamonha", essas coisas.

pois passa um anúncio gigantesco bem assim na minha janela: "vendemos codornas abatidas"

virei pra minha mãe, com pesar na voz e indaguei: "poxa mãe, porque eles não vendem umas codornas alegrinhas?"

Anônimo disse...

eu tambem fui uma pestinha!!!!!!!
só voltando aqui pra contar minhas historinhas tambem. cada uma mais engraçada que a otra1!! kkkkkk
beijo

Anônimo disse...

Todo mundo tem uma prima, primo ou irmãozinho diabólico...

Anônimo disse...

hahahahahaha ........ gostei do seu avô!!!

J. disse...

...mas hoje tem a Super Nanny!!! A nova heroína do horário nobre!!! o_O

Carlos Seixas disse...

obrigado pela visita. volta sempre!
kisses all over

Ricardo Rayol disse...

Bom, uma vez funciona.. muitas vezes formam psicopatas ahahahahaha

Unknown disse...

Já eu prefiro não ter filhos (tão cedo ao menos).

Posso te linkar?!?!

Bjao!!

Anônimo disse...

ainda bem que ele nunca precisou usar dessa psicologia com a gente né Jô... muito pelo contrário... a gente só pensava na chupetinha quando acabasse de comer (por favor não enterpretem mal chupetinha é um pirulito em formato de chupeta muito comum em santo amaro)
rsrsrs
bjin