domingo, agosto 12, 2007

Voltei a cantar



Parar de escrever em blog entrou pro rol das coisas que eu não posso parar de fazer. A menos que eu queira correr o risco de não voltar mais. É como malhar, estudar ou usar creme pro rosto. Você sabe que é preciso ter disciplina, então se organiza - no caso do creme compra os potinhos, um para o dia, outro pra antes de dormir - e pensa "Que fácil é ficar bonita!".

Entusiasmada, no primeiro dia você lava o rosto, toda minúcia, aplica o creme e sente a parada fazer efeito - rejuvenescendo mesmo! Ainda mais no meu caso: aos 19 adquiri uma poção anti-idade para as de 25. A revendedora avon, por sinal minha ex sogra, disse que não faria mal. Às vezes sinto um formigamento, de vez em quando é como se a pele estivesse em chamas, mas acho que é normal.

Então uma noite, depois de misturar cerveja alemã com cachaça seleta, você chega em casa inutilizada, acabada, jogada na valeta. Passa pelo banheiro sem mirar o espelho, despeja o xixi reprimido das moçoilas casadoiras que não se corrompem por qualquer banheiro da night e segue maquinalmente pra cama.

Sim, você dorme de maquiagem - aqueles quilos de pó e tinta preta se mesclando noite adentro numa alquimia goguenta - e acorda ao meio dia com gosto de cabo de guarda-chuva na boca, lembrando com pesar dos devaneios da noite e de que, "droga, já é domingo". O céu de Salvador, lindo como nunca dantes, te inspira um lamento pelo dia de praia perdido (mais um) - é a sua pele de jambo-girl também se esvaindo, amiga... outro suspiro.

Você confere a tela surrealista que o pincel de seus cílios estampou no travesseiro - era uma vez aquela fronha linda de cambraia de linho - e finalmente desbrava o banheiro, cheia de medo, coração aflito, mas pronta pra mirar a cara com coragem. Coragem, coragem.

Aquela semana de devoção e disciplina não passaram no primeiro teste prático, o da resistência física. Então adeus rotina cretina de cremes, adeus rejuvenescimento.

Com blog é menos drástico, mas igualmente devastador e de difícil recuperação. Vocês estão diantes de um esforço superior, meus caros. E quem viver verá quanto tempo durará!