quinta-feira, dezembro 28, 2006


Eu e o cinema


Foi paixão a, talvez, décima vista. Demorou e eu fui enfim laçada, arrebatada e vencida: o cinema inaugurou uma nova era na minha então tão breve vida. Eu tinha doze ou treze anos quando meu pai, sempre vanguardista e generoso no presentear, me deu o que na época era algo que eu não cogitava ter tão cedo: um aparelho de dvd. Fiquei estusiasmada mais pelo ar da novidade do que pelo deleite ou pelo acréscimo cultural que o aparelho poderia me proporcionar. Recebi o "bicho" em casa e marquei a inauguração com amigos, seria a exibição da primeira de uma série de tardes cinematográficas (lembrando bem, agora eu observo: há uns cinco ou seis anos, o dvd ainda era uma grande novidade. A mesma coisa foi com o celular, no início era uma aquisição complicadíssima, hoje qualquer cachorro de madame possui um com flip, viva voz e câmera).
Meu pai esqueceu de levar o controle remoto e, sem ele, não é possível selecionar legendas. Voltamos à pequena locadora para trocar o filme gringo por uma película brasileira, e na falta de opções, levamos o péssimo "Avassaladoras". Deprimente. Filme horrível, bobo, sem graça, chato pra se ver até na intenção de ver um filme chato.


A "segunda vez" do meu dvd disparou em qualidade. Aluguei, dessa vez sozinha, "Janela indiscreta", de Hitchcock e "Advogado do diabo". Fiquei atinada e a partir daí, cada troquinho que eu arrumasse teria como destino o caixa da pequenina locadora que, aos poucos, foi mostrando pra mim o tesouro que guardava. Neste ano de 2002 ou 2003 - talvez ambos, que péssima memória a minha - eu assisti mais filmes do que em toda a minha vida.

Ganhei também de meu pai nessa época o "imperdível, melhor filme de todos os tempos" (segundo ele), "Cidadão Kane". Fui com sede demais ao pote e vi menos do que esperava a minha mente ansiosa e mirabolante. Maravilhoso, claro, pude constatar anos mais tarde, com jeito e com calma.
Nesse lote vieram ainda outras pérolas. Também de Orson Welles, "A dama de xangai", com sua fabulosa cena dos espelhos e "F for Fake", que eu achei esquisitinho; o honorável "Chinatown" (vida longa a Jack Nicholson); "Atlantic City", me revelando a talentosa Susan Sarandon desde a mocidade; "Butch Cassidy", com os deuses Paul Newman e Redford; e por fim, o que já foi meu número 1 e que por muito tempo colorirá meu top 5 melhores filmes, o incomparável "A primeira noite de um homem".

["Hello darkness, my old friend... I've come to talk with you again", ciciado por Simon e Garfunkel, é o primeiro verso de "Sounds of silence" e me provoca calafrios até hoje.]

Comecei pelos clássicos modernos. De Laranja Mecânica e Calígula aos filmes doidos de David Lynch, eu estendi o apreço por uma obra à coleções, e assim conheci Chaplin, Hitchcock, Oliver Stone, Scorcese, Coppola, Altman, Tarantino, Bergman, Truffaut, Buñuel, Fellini, Godard e Kurosawa (rapidamente), Woody Allen, Billy Wilder, Polanski, até Glauber (eu era uma guria muito tirada) e outros tantos, com certeza. Fora os "filhos únicos" (não enumerados por preferência): "Corra, Lola, Corra", "Como água para chocolate", "Amarcord","Casablanca","O fabuloso destino de Amélie Poulain", "Irmãos cara de pau", "O incrível exército de Brancaleone", "Scarface", "Um dia de cão", por aí.



E pra vocês, me contem: como foi que o cinema, esse sujeito simpático, se apresentou?

11 comentários:

Anônimo disse...

ah....nem me lembro quando foi que comecei a gostar de cinema...acho que nasci gostando.

Adoro os clássicos mas ultimamente estou gostando de descobrir diretores novos...diretores como Michel Gondry, Spike Jonze,que iniciaram suas experimentações audiovisuais nos vídeo...eles são ótimos.

Além desses caras, descobri também recentemente caras geniais como Wong Kar Wai, Wes Anderson, Chan-wook Park...enfim...há uma infinidade de coisas legais que descubro todo dia no cinema...e acho que é por isso que sou apaixonada por esse universo.

Edu Alves disse...

Filmes dos trapalhões em fins de ano no shopping. Cinema(?) muiot prazer. Mas há o cinema, espaço físico de exibição, e o CINEMA, entidade, instituição. A esse, fui apresentado por um certo Felinni, num dia em que fiquei zumbizando pelos canais de tv, e me deparei com um filme docemente libertino que me infiltrou num mundo do qual não quero mais sair, o da arte honesta e comprometida consigo mesma.
Desde então, venho detestando muito mais que amando as películas. Muito raramente, aliás como tudo nesta vida, alguma me derruba da cadeira. Sem qualquer compromisso com cronologia ou nehum outro critério, vão até MORTE EM VENEZA, CINEMA PARADISO, LARANJA MECÂNICA, ALGUÉM TEM QUE CEDER, MELHOR É IMPOSSÍVEL,CRONICAMENTE INVIÁVEL, entre outros, e me digam se suas vidas serão as mesmas depois disso. Se forem, me perdoem, mas corram á próxima "devedelãndia" alugar UM ENLATADO E CAMPEÃO DE BILHETERIA. DE PREFERÊNCIA AQUELE QUE PASSOU ONTEM NO "INTERCINE".

Thiago disse...

eu acho q foi com rei leão... acho q foi minha primeira ida ao cinema... ou foi aladim
nao lembro, sei q manter uma cultura cinematográfica eh caro mesmo com dvd....

eu sofro isso na pele..

jo, tou gostando do blog

Anônimo disse...

minha iniciacao foi com porks!! mt bom, assitam... bjo jo

Anônimo disse...

gloriosa joaninha

seu post me remeteu às melhores lembranças que eu tenho do cinema. em uma viagem a roma, tive contato com vasto acervo italiano de literatura cinematográfica e fui apresentado às mais interessantes películas que se pode imaginar. veja que conhecemos apenas a ponta do enorme iceberg que se produz por lá e, mesmo assim, as amostras são surpreendentemente valorosas - cinema paradiso que o diga, não?
agora, preciso dizer:
tão nova e já tão ávida pela cultura. jô, você realmente não existe. beijo do amigo!

Anônimo disse...

Jô. o cinema me foi apresentado na cidade de Poçôes, Cine Santo Antônio, sem censuras e frescuras, todos os filmes de mocinhos e bandidos, o bom cinema europeu atravessava as nossas matinés dominicais. Depois veio o cine Glória, onde me surpreendi com o filme IF... 1968 de Lindsay Anderson, tinha eu 10 anos, e não entendi as bolinhas que tapavam os sexos das pessoas, ainda permanece o sentido vivido,não mais quis assistir. BARBARELA de Roger Vadin, O BEBÊ DE ROSEMARY de Roman Polanski. O Cine Glória, onde vivi e sonhei ROMEU E JULIETA de Franco Zeffirelli. O cine Jóia... e depois Salvador, adolescência, Bergman e muitos cinemas e filmes a escolher e digerir, ruminar....
Umas dicas: FELICIDADE, 1998 de Tood Solondz. NINGUÉM PODE SABER,2004 de Hirokazu Kore-Eda. O FILHO ADOTIVO.1988 de Aktan Abdykalykou - Quirguistão/França, esse filme fala do tempo-lugar das eternas brincadeiras e camaradagens da infãncia, e de como aprendemos e sofremos pela diferença de ser: perna de saracura, zarolho, mulherzinha,quatro olho, orelha de abano, etc,atc,etc onde a inocência e despreocupação nos faz cruéis e verdadeiros.

Anônimo disse...

Olá, querida Jô. Ao cinema fui oficialmente apresentado por meu pai, que lá pelo meio dos anos 60 gastou sua indenização trabalhista levando a família pra passear todos os dias por Sampa. Chegávamos, olha o absurdo, a ver quatro filmes por dia e sempre tinha o restaurante pra coroar o final dos passeios memoráveis. Não sei aí em Salvador, mas por aqui, na época, tinham muitos cinemas nas ruas, nos bairros. Hoje só tem em Shopping. Era um ritual o espetáculo nos cinemas. Cortinas fechadas, chegava a hora da exibição e começavam a tocar as badaladas, sempre em três. A luz da sala ia diminuindo lentamente, ao tempo em que se abriam as cortinas. Sempre tinha um documentário, normalmente do Canal 100. Depois um trailer e aí dois filmes. A gente saía das nossas habituais dimensões de espaço e tempo e entrava no mundo dos sonhos. Mudando um pouco de assunto e continuando no mesmo deixa compartilhar com todo mundo uma dica valiosa? Vai dar muito trabalho pra achar e vai valer toda a pena: "A Camareira do Titanic". Lindo demais.

Anônimo disse...

eu não sei como o cinema se apresentou pra mim... na verdade, entre os filmes dos trapalhões e as comédias bobocas inéditas da globo, eu não sei definir o que me causou esse sentimento inaugural. via tudo o que era porcaria como mais um, até o dia em que me apresentaram um filme - não me peçam pra dizer quando ou qual - em que eu precisei ir além da contemplação abobada e decifrar no meu intimo um pouco mais do que entretenimento. e fui muito além, fui fisgado por uma onda que me move ate hoje e me enfeitiça... o cinema é exraodinario! ha que contemplá-lo!

junior

Anônimo disse...

Não sei precisar minha primeira incursão ao mundo da sétima arte, mas acredito que minha infância foi regada aos clássicos da sessão da tarde, filmes dos Trapalhões no cinema e enlatados americanos.
Somente no meio da adolescência o cinema se apresentou como algo útil pra mim. Foi um professor de Literatura que me causou um insight quando disse pra turma: "Tomem vergonha! Esqueçam Hollywood e descubram o cinema de qualidade!!". Acho que a partir daí eu realmente aprendi a gostar de cinema...

:*

MM disse...

Joana! valeu por ter passado e divulgado nosso BLOG.
Já favoritei esse daqui.
Eu ainda não sei fazer links, mas assim que aprender faço o link para ess blog também.
Parabéns e até
Marcelo Mendonça

Tudo disse...

oi joana!
descobri teu blog andando por aí, acho que vivemos na mesma cidade ...
Vc escreve muito bem, andei lendo um pouco por aqui, vc vai escrever profissionalemtne? (li algo no primeiro post do blog)

Ah sim ... sobre cinema tenho algo hj lá blog e algo mais antigo sobre o que vc perguntou de cinema, tenho aqui:
http://ideiasdespedacadas.blogspot.com/2006/04/um-dia-de-amarcord.html

beijos
;-)