quinta-feira, dezembro 07, 2006

INHOTIM

Demorei, eu sei, mas hei de ser perdoada: escrever sobre o que escreverei exigiu de mim um certo tempo de maturação... ou de desgustação! (ou ainda, de "ruminação")
O motivo do meu drama? A vontade de descrever o que eu vi por lá. Impossível, só conhecendo pra sentir. Convido vocês a ler um breve resumo do que eu vi e do que tecnicamente se prepõe o centro de arte contemporânea INHOTIM (espero já estar perdoada, então).

Estive com meu tio e primos no domingo dia 3, véspera da minha volta pra Salvador, em uma cidade chamada Brumadinho, a 60km de Belo Horizonte (cidade conhecida por muitos como a terra de Aleijadinho - descobri depois que ele nasceu em Ouro Preto), para o que eu imaginava ser uma morna, mas alegrinha visita turística - porque as crianças estavam animadas demais para uma repetida visita a um museu.

Chegamos, pagamos, entramos. O recepcionista alertou que duas galerias possuíam conteúdo "inadequado", que entrassem os adultos primeiro para decidir se as crianças poderiam ver (eu deixei! claro). Colei na pele meu adesivo de visitante porque não aderia à minha roupa, e seguimos para a primeira galeria, "Pro banheiro primeiro", disse minha prima e assim fomos todos lavar as mãos antes, um pretexto pra usar o banheiro mais lindo que eu já vi. Lindo, e agora pode-se excluir o romantismo da minha fala, era um banheiro majestoso com três pias de granito preto e mármore, de frente para espelhos redondos que intercalavam três palmeiras imperiais. E a saboneteira funcionava.

Saindo do banheiro, dei com uma estradinha de pedras sobre grama cortando um imenso jardim de plantas exóticas. O Inhotim é dedicado quase em sua totalidade ao cultivo de flora ornamental rara do Brasil e do mundo (cerca de 1.400 espécies!). São 1.200 ha de área com 35 de paisagens e 400 de mata nativa preservada. Três lindos lagos de 30.000m² de lâmina d'água compõem esse imenso jardim que é ainda o local de sobrevivência, alimentação e reprodução das mais variadas formas de vida (pavões, gansos, patos, marrecos, cisnes que eu não vi nem em conto de fadas - tinha um preto!).

O Inhotim abriga espressiva coleção permanente de arte contemporânea com aproximadamente 300 trabalhos produzidos entre a década de 1960 e os dias atuais. Artistas brasileiros e internacionais estão expostos através de pintura, escultura, fotografia, vídeo, instalações e outras cositas más (e haja cositas! grifa esse cositas aí!), fora as obras espalhadas pelo jardim. Eu visitei sete das nove galerias (duas estão em reforma, e parece que reformas são constantes, dado o tamanho das instalações e da relativamente curta permanência das obras).

A primeira galeria que visitei continha uma instalação sonora. Quarenta caixas de som posicionadas de modo com que o som convergisse para o centro, onde havia bancos para os visitantes sentarem. (Lembra a cena de "O clã das adagas voadoras", quando colocam a menina cega no meio dos tambores pra ela dizer de onde vinha o som). O som era uma gravação de pouco mais de 14 minutos e parecia uma ópera. Só havia vozes e de cada caixa saía uma única voz, em momentos distintos. Começou uma voz feminina ao fundo e meu primo de dez anos, pra mim: "foi você que falou?". Incrívelmente bonito.

A galeria Cildo Meireles (uma das duas permanentes) abriga uma bela instalação do autor, "Desvio para o vermelho". Tira-se os sapatos para entrar e eu juro que soltei um "ooooohh!!!" altão quando eu entrei. Pense num quarto onde todos os objetos são vermelhos! Tapete, sofá, mesa, vitrola, vinis, escrivaninha, televisão, lap top, bugigangas, armário (roupas dentro do armário e um sutiã lindo!), tudo! E tudo parte da coleção pessoal de Cildo, artista renomado internacionalmente que vive atualmente entre o Rio e NY. O rapaz que supervisiona falou que muita coisa ele ganhou de presente, e eu disse que ia dar alguma coisa vermelha bem lindona pra ele colocar lá (rs).

E quando eu achei que tinha visto tudo, minha prima me leva para uma entrada ao fundo onde uma mini garrafa deitada no chão simulava o vazamento de um líquido vermelho que tinge o piso e leva à uma outra sala absolutamente escura (tão escura que eu tive medo de andar sem segurar a mão dela). Um fino facho de luz iluminava um único ponto, uma pequena pia de cuja torneira saía continuamente um líquido. Vermelho.

As galerias e suas obras proporcionam ao visitante a interação com a arte e demostram fisicamente as várias conexões existentes entre espaços arquitetônicos e experiências individuais do corpo. Lá eu caminhei sobre placas de vidro quebrado, vi dois pelados encapuzados brigando, entrei num iglu onde se vê a água parar no ar, vi fotos chocantes e li coisas terríveis, entrei num Tuk Tuk (táxi tailandês) e assisti a parte de um filme de lá (a Tailândia é a maior produtora de cinema do mundo), deitei em uma rede enquanto ouvia "Purple Haze" e via Jimi Hendrix projetado nas paredes, ele, seus apetrechos lisérgicos e suas carreiras de cocaína sobre a capa do próprio disco e muito, muito mais.

7 comentários:

Anônimo disse...

primeiríssima a comentar! hohoho... minha assiduidade aqui me surpreende. é tão gostoso ler o que você anda vivenciando. não como voyeur, mas sim como coisas interessantes que sendo compartilhadas nos acrescenta muito. (mesmo sendo, às vezes, apenas risadas... vide post passado hauhaha)

esse lugar parece ser bem interessante. a gente sempre acha que só 'lá fora' que tem coisas assim, mas aqui dentro a quantidade de artistas que produzem coisas maravilhosas como estas é infinda. que bom ir nesse lugar, quem sabe um dia não vou também.
outro que tenho vontade de conhecer é o museu da língua portuguesa, em sp. tenho andado bem (mais) apaixonada pela nossa língua (guapíssima, como vc diz) e aposto que seria um tempinho de muito deleite.

preciso viajar!!!! hunf!

Anônimo disse...

Eu meio que torço o nariz pra arte contemporânea, mas esse Inhotim para ser bem legal. Tá vendo que sua passagem desprogramada por Belzonte rendeu??

Um beijo.

Anônimo disse...

fui tardiamente avisada da existencia deste blog...
bom ler as coisas de Jô, uma cratividade cativante e um jeito todo dela de ver a vida. A maior perda de inquilino do dono do meu prédio!

me leva pra minas,leva...

Anônimo disse...

Belo Horizonte pelos (e aos) olhos de Joana!
Pois essa mulé merece ser olhada, de forma discreta, se possível, para que o que olha não seja percebido e ameaçado de enfrentar um acidente por conta desses olhares... Vixe! Que agouro o seu, hein?
Hehehehe!
Quanto a essa vermelhidão toda, me lembrou Amsterdam e seu "Red Light District", avermelhando as putas e as buchechas dos turistas de variadas idades e nacionalidades que as olhavam como quem anda num zoológico à procura de animais excêntricos. Uma loucura. Coisas que só se vêem em Amsterdam!
Mas pelo jeito por Minas é possível também ver coisas que só por lá se encontra.
Deu vontade de seguir esse seu roteiro, Jôjoca!

BeiJOcas!

Anônimo disse...

ana:

foi essa a sensação que eu tive quando entrei no inhotim: realmente não é preciso ir longe para ver as maravilhas desse mundo. tem arte, tem competência, tudo fervilhando, implorando por nossa atenção. falta a gente valorizar como o que vem de fora! ah, eu também sou doida para conhecer esse museu em sp. vamos juntas hein, quem sabe?

marcelo:

rendeu, e como! eu também nunca fui chegada a arte contemporânea, assim como a quase tudo da modernidade: sempre tendi a valorizar o anacrônico, o erudito. gostava de nat king cole quando criança (hoje eu amo) e me apaixonei perdidamente pela máquina de escrever de minha mãe. ultimamente, até no comportamento humano eu tenho pensado dessa maneira - "não se fazem mais homens como antigamente" (e mulheres também) afora... porém, essa minha visita me mostrou que eu tenho um universo imenso ainda a conhecer. a (ignorante) impressão que eu tinha acerca da arte contemporânea não ia muito além da influência dadaísta (mictório de duchamp) e de algumas obras cuja natureza artística eu sempre questionei (talvez por não entender!). a arte... difícil tema! difícil, como eu li num texto, entender o que desperta em nós o estranho sentimento do belo.

renata:

ingrata! brincadeira... rs
obrigada pelas sempre tão elogiosas palavras! bem vinda, volte sempre, comente, conte, troque figurinhas do seu cotidiano e me mantenha sempre a par das novidades do edifício da amizade e da discórdia! rs

maira:

jogando praga pra cima de moi?! quer espantar meus pretendentes, menina?!
ah... olha você, você vem e me fala do red light district, da holanda, de suas andanças, mata, mata essa sua amiga de inveja!

Anônimo disse...

posso falar q fiquei morrendo de inveja?
deixa, deixa, deixa!!!!!!
aff, eu preciso de dinheiro urgente pra fazer coisas assim...

Moni disse...

Entrei aqui de gaiata e não pude deixar de comentar a vontade q me deu de conhecer esse lugar!
Também já torci mto o nariz pra algumas coisas da arte contemporanea por ela ser tão "livre", digamos.. É muito mais dificil compreender um artista moderno..
É fato que existe muita coisa ruim também, mas não dá pra generalizar. Esse Inhotim mesmo, se fosse no sul de mg eu visitava no fim do ano. Porém bh é tããão longe de onde eu vou :(

Ahmm, falei demais!
Beijos!