quinta-feira, outubro 25, 2007

Tudo brincadeira

Não era feia, mas as comparações que torturam a irmã mais nova de uma lindíssima garota começavam a despontar. Olhava as pernas macias e as mãos de mulher da mais velha e pensava que seus joelhos pontudos e unhas sujas jamais conseguiriam.
Esperava a outra sair para entrar num mundo só dela. Sorrateira, ganhava o quarto, mexia nos adornos da penteadeira, fazia a festa. Empoava-se toda, passava batom, calçava a Anabela da irmã e vestia uma roupa tão comprida que podia fingir de cauda de vestido de noiva.
Deitava então na cama cheia de almofadas, sem nenhum bicho de pelúcia. Feito madame, esgueirava-se até a cômoda para pegar um pequenino espelho e procurar um princípio de espinha - no dia que achou, ficou tão orgulhosa...
Achou também um esmalte, mas não pincelou as unhas porque a cor era forte demais, sua mãe brigaria. Mas, delicadamente, bordou uma quase imperceptível flor na unha do mindinho.
Neste dia sua irmã estaria fora por toda a tarde e ela podia brincar no sonhado quarto até cansar.
Talvez por isso ela, vendo-se calçada naqueles sapatos de pata de elefante, com aquela poeira toda na cara e um batom que mais fazia parecer uma palhacinha, num instante cansou da brincadeira, "deixa essa coisa toda pra outro dia", deu uma piscadinha pro espelho e voltou a ser menina arteira.

14 comentários:

Anônimo disse...

ui uiiiiiii
adorei esse. beijo

Paulo Bono disse...

joana traquina.
abraço

o Quinto disse...

não era feia, era linda

Álvaro Andrade disse...

toda menininha pequena faz isso, né?
engraçadas são as fotos. Uma amiga minha tem uma mto engraçada de qnd era criança... um batonzão vermelho.. hehe

Anônimo disse...

Ah Jojo, é mais gostoso ser criança ... que saudade ...
Bem fez a menininha! Rsssss
:D
beijo

Senhorita B. disse...

Joana,
Seu texto e seu blog são lindos!
Beijos,
Renata

Taiane Dantas disse...

Ai ai... por que a gente cisma em querer ser o que não dá pra ser? Lembro bem das minhas brincadeiras de "mulher". Tantos afazeres, filhos, escritório, saltos, bolsas, anéis de ouro, brincos que faltavam rasgar a orelha, sem contar o indispensável batom vermelho. Ui ui... nós meninas e nossos caminhos para a vida adulta. Ai... Como eu queria querer ser quem eu sou agora, aquele tempo era tudo tão mais calmo. Mas é assim mesmo, uns anos mais pra frente eu vou desejar essa vida "ruim" de agora. Bom texto, Jô! Bom mesmo! Te coloquei lá na minha lista de favoritos tá? - Não tô cobrando retribuições, é só pra falar mesmo! ^^


Beeeijo! ;*

Anônimo disse...

Joana,
estou estreando meu blog hoje mas já conheço o la vie de alguns dias. Tenho lido muito, gostado muito e hoje finalmente comentei lá no post sobre Chico Buarque. Você é uma ferinha! Parabéns.

Anônimo disse...

Joana,
mal comecei e tropecei. O blog do Ivan foi parar em algum lugar de onde não pode ser resgatado para atualizações. Novo endereço: http://dmitriivan.wordpress.com.

Ivan Dmitri.

Anônimo disse...

oi!
passei prá ver se tinha novidade ... Saudades das suas estórias tão espirituosas.

bjs
;-)

Anônimo disse...

histórias de um carnaval sem plumas,
provocativo textos

Anônimo disse...

histórias de um carnaval sem plumas,
provocativo textos

Anônimo disse...

histórias de um carnaval sem plumas,
provocativo textos

Anônimo disse...

Eu adoro histórias curtinhas que dizem muito.