segunda-feira, março 12, 2007


Cinco vidas eu tivesse, cinco vidas gastaria

Ah, se soprasse um gênio, ou mesmo o barqueiro da encruzilhada e me dissesse: "Joana, minha filha, tens cinco vidas para escolher como gastar". Cinco vidas, mon dieu, alguns com nenhuma e eu ainda assistindo às minhas de camarote. Só em uma eu seria macho, pra experimentar e ver que falta graça. Esse "eu" nasceria nos anos 20, carioca, com olhos cor de mel de abelha jataí e com a lábia maior do mundo. O Jorginho Guinle do subúrbio e do coração. Gastaria fácil, conquistando todas, menos aquela, aquela que cria o saudosismo pro fim da vida.
A primeira mulher poderia nascer mexicana - tudo neste século - ou uma mezzo índia sul-americana muito linda, claro. Gastaria parte de minha beleza com os mui guapos e fugiria com o bando de um circo. Falaria bem pouco e soltaria raivosismos guturais quando contrariada. No circo, eu não seria assistente do mágico nem faria acrobacias. Faria números com um tigre que só respeitasse a mim e morreria dele, um dia, nova ainda, atacada com uma dentada na barriga.
Claro... eu seria atriz de cinema.
Uma do quilo de Marilyn, mas sem os deslumbramentos. Uma Rita Hayworth na trama policial da história. Seria Claudia Cardinalle quando não deu bola pra Mastroianni, ou viveria a glória e o fim à la Norma Desmond, mas desprezaria mais o meu último amante. O pneu do meu conversível furaria numa estrada da Riviera e Marlon Brando me socorreria. Seria uma figurante sonhadora e vulgar em Hollywood e faria um roteirista ruim mui mui infeliz.
Uma gran escritora, eu poderia?

"Trilha sonora ao fundo: piano no bordel, vozes
barganhando uma informação difícil. Agora
silêncio; silêncio eletrônico, produzido no
sintetizador que antes construiu a ameaça das
asas batendo freneticamente.
[...] "

E claro, me jogaria...

Seria outra Joana, enfim. Mas uma Joana diferente, não esta corrigida, e sim a de outros rumos, do alter ego ouvido. Uma Joana parideira de cinco Marias briguentas, que nem no poema:

"Vontade de criar filho. Tudo fêmea.
Muitas fêmeas soltas de mim de avental.
Vontade de largar sapato alto
a teoria meia fina e carreira
para ser toda eu criadeira.
Meu quintal minhas crias
um varal cheio de calcinhas.
[...] "

que tal?

8 comentários:

Anônimo disse...

ainda tá em tempo.

Anônimo disse...

Minha querida,há muito tempo não entrava aqui.Agora serei leitora diária,pois só vc pra conseguir em breves textos me arrancar gargalhadas ou até mesmo me proporcionar breves segundos de desligamento material,consegue facilmente me transportar dessa cadeira dura que eu tô sentada(em frente ao computador) pra um mundo totalmente "Joanino",como seu texto de agora,o mais engraçado é que esse "mundo" que me envolve tem uma forma bem peculiar de se mostrar,sempre imagino através de seus textos imagens em preto e branco,ou muitas vezes as fabulosas cores de Amelie Pouláin(incluindo a dinâmica do filme tb).Não é exagero,me trasporto exatamente dessa forma com seus textos.Tb não sei se consegui me expressar,espero q tenha entendido.tsc tsc!
Beijos

Anônimo disse...

Qtas vezes eu repeti a palavra "texto" em meu comentário?!Pufff

Bruna Cancio disse...

eu gastaria todas elas também...

Fugu disse...

Mas que fantasia deliciosa. E deliciosamente bem escrita (se me perdoa o advérbio de modo .. rsrsr). Adorei viajar nas suas asas. Fui longe.
beijo você

Ana Clara disse...

eu gastaria todas elas também... (parte 2)

e que delícia você nos anos 20. te pegaria na hora.

Anônimo disse...

muito bom!!!!! msm!!!!!!!!!!!!!

Edu Alves disse...

ahhh prima, vc viu... que coisa boa... e o melhor é ter vc pertinho, ao alcance, ver essas coisas boas todas diluídas/ampliadas em seus gestos e no seu jeitinho único...
bem, de primo mais velho, uma única imposição para o seu contrato de casório com ele: umas parcerias comigo... tá, vc é a musa, negociado!!!!
beijos!!!!!