quinta-feira, julho 09, 2009

A vida, essa caixinha

Que ninguém me inclua em teorias da conspiração caso eu caia dura amanhã, mas gosto de falar que uma vida curta vale mais do que uma longa, desde que seja bem vivida. Não é campanha contra nada: continuo querendo que vocês façam planos, fiquem ricos, procriem muito e morram velhinhos.

Mas eu fico pensando.

Já que ninguém sabe o dia de amanhã, e a minha parca matemática me impede de fazer planos de vida que ao mesmo tempo incluam pensar muito no futuro + viver muito o presente, a solução é viver muito o presente e pensar no futuro só como uma coisa que talvez dê certo.

Manuel Bandeira passou a vida tentando tratar uma suposta tuberculose, e por achar que morreria aos vinte, não casou aos trinta, não teve filhos aos quarenta, aos setenta sequer tinha feito algo perigoso. Viveu mais de oitenta anos sonhando com o rei, a cama e as prostitutas da idílica Pasárgada. Ninguém merece uma coisa dessas.

Claro que ninguém merece também ser um tipo destrutivo Raul Seixas que, à parte os bons frutos que sua lisergia seminou, foi um talento destruído pelo excesso dos entorpecentes conhecidos e desconhecidos. Como Bandeira, tenho minhas dúvidas se este conseguiu curtir sua estadia no planeta.

Tem aqueles que dosam a vida do jeito que ela quer: se formam, juntam dinheiro, se casam, perpetuam a espécie e, do nada, o Airbus que levava a família para um verão em Paris vira um parafuso no ar e lança pessoas aos pedaços em pleno oceano.

A vida não tem mesmo explicação. Mas eu conheci gente que se pela de medo quando pensa em envelhecer com alguma daquelas terríveis doenças senis. Será que para estes o perfeito é morrer tragicamente? Aos quarenta, descendo a ribanceira num conversível?

Uma vez eu vi um coelho morto atropelado, todo esbagaçado e pensei: como a vida é frágil, é só essa caixinha. Uma caixinha de costelas.

4 comentários:

Dinda disse...

O culpado é Epimeteu que acabou abrindo a caixa, e liberando os males que haveriam de afligir a humanidade dali em diante: a velhice, o trabalho, a doença, a loucura, a mentira e a paixão.

Estava com saudade.
beijo da Dinda

Unknown disse...

Pô! Achei o blog muito massa. Li esse texto e corri o olho sobre outros. Ainda os leio com a atenção que merecem, mas a impressão primeira foi muito boa. Parabéns pelo blog, já irei indicá-lo no meu. (www.alemdebememal.zip.net)
Afinal, cheguei a ele vi Leminski, isto é um ótimo sinal...rsrs.
Até mais!

Nilson disse...

Caixinha de costelas é ótimo. E vc me fez pensar de verdade: aos 40, não sei ainda se quero ser um jovem (!) defunto ou um velho (?) moribundo. Vou dormir com essa, Juanita!!!

Nyala... disse...

acho que não tem muitos comentários nos seus textos porque inibem de tão expetaculares. eu sou imbuia na face! e só por isso escrevo aqui.