quinta-feira, março 26, 2009

A anti história do cobrador

Um cobrador de ônibus sentado no seu assento, totalmente à vontade, se ajeita quando o ônibus para no ponto. Eu entro e dou boa noite, ele responde um boa noite inesperadamente vivo, simpático. No meu caminho até um banco, cruzo com um velho que leva a mão cheia de moedas, e eu escuto do cobrador:
- Tá certo aqui?
E o velho:
- Tá certinho, dois e vinte.
Viro só pra confirmar o que eu já sabia, que ele sem conferir separaria as de 25, 10 e cinco centavos, botando cada moeda nas partezinhas da caixa de dinheiro. Fico pensando se ele pensou também se faz isso por preguiça ou por saber simplesmente que quem entrega uma mão de moedas raramente dá a soma errada.
Mas vou pensando por mais tempo numa terceira possibilidade. De repente ele teve ali um súbito, inédito acesso de crença na humanindade. Pensou que a vida é muito curta, e que afinal arriscar a confiança é uma chance que damos a nós mesmos. Ou talvez o crédito foi só para aquele velho. Quiçá deduziu que o velho é pobre - e pensou que são os pobres os mais honestos. Talvez ainda por um mistério escondido nos olhos do velho, ou porque o velho é velho, sei lá o que ele pensou. Talvez fui eu com meu boa noite: plin, acendi uma luz. Ou nada disso - na verdade não deve ter acontecido nada, ele em nada pensou, e se na contagem do faturamento faltarem 20 centavos, ele sacode no bolso uma moeda e esquece o assunto para sempre em dois segundos. E isso foi só mais uma besteira que veio assaltar minha mente no tédio de uma volta pra casa.

4 comentários:

Paulo Bono disse...

acho que é preguiça mesmo, Joana-
acontece comigo tb.

abração.

*Que textos vc fala? Do blog?
Se for, pode pegar.

Nilson disse...

acho que ele queria impressionar a moça que deu boa noite!

Sunflower disse...

ah, tá vendo, viajo nessas paradas, vide o enorme comentário abaixo.

bastaestarvivo disse...

Ah, foi um momento bonito...por quê deveríamos acreditar nas coisas feias e nas bonitas não? o que aconteceu é que você estava com os olhos abertos pra ver aquele momento. Bonito.