segunda-feira, janeiro 14, 2008

Homem e mulher no telefone às duas da madrugada


“Você sabe, a minha vida é uma caravela cheia de tentáculos”, eu disse.
“Não sei o que fazer com tanta saudade”, ela disse.
“Põe numa garrafa e joga ela no mar. Quem sabe vai parar na Antártida”, eu disse.
“Você não me leva a sério”, ela disse.
“Eu te levo pra andar por aí”, eu disse.
“Vamos andar por aí”, ela disse.
“E ir até o mar em silêncio tomando uma cerveja. E molhar os pés na água gelada”, eu disse.
“Quem sabe chega uma garrafa cheia de saudade”, ela disse.
“De um esquimó que perdeu a moça ou a touca”, eu disse.
“Eu derramaria a garrafa em sua cabeça e te sopraria um feitiço”, ela disse.
“Sua macumbeira”, eu disse.
“Seu cretino amado”, ela disse.
“Está tocando aquela música”, eu disse.
“Estou escutando daqui”, ela disse.
“Fiquei nervoso, fala alguma coisa”, eu disse.
“Você me deve um saco de caramelos”, ela disse.
“Você me deve um strip-tease”, eu disse.
“O que você vai fazer agora?”, ela disse.
“Vou me jogar da janela e já volto”, eu disse.
“Tomar estricnina pra esquecer essa menina”, ela disse.
“E um calmante, um excitante, e um bocado de gim”, eu disse.
“Se você estivesse aqui seria muito bueno”, ela disse.
“Eu vou te visitar daqui a pouco num sonho bom”, eu disse.
“Por favor, não venha num cavalo branco”, ela disse.
“Estou mais pra pangaré. Eu o pangaré e você no meu lombo”, eu disse.
“Vou sonhar que sou o Atacama e você um camioñito de perdidas arenas. Nem tenho pena do tanto de viagens que você vai ter que fazer”, ela disse.
“Nunca sonhei com você”, eu disse.
“Deus te protege de um infarto noturno e fulminante”, ela disse.
“Chata, mas engraçadinha”, eu disse.
“Eu tenho os meus momentos”, ela disse.
“E nós só temos mais uns cinco minutos de prosa”, eu disse.
“E aí game over, como o combinado”, ela disse.
“Combinado, registrado e carimbado num contrato selado com amor”, eu disse.
“Quem diria que essa história ia acabar com as unidades de um cartão telefônico”, ela disse.
“Quem diria tanta coisa, meu amor”, eu disse.
“Tomara que um dia a gente possa ser amigos”, ela disse.
“Tomara que um dia a gente possa estragar essa amizade”, eu disse.
“Sua vida é uma caravela e a minha é uma água-viva. Eu sou uma sardinha e você é um peixe-banana”, ela disse.
“Ela me detesta. Um beijo na boca”, eu disse, e ela disse “Um beijo na testa”.



12 comentários:

Anônimo disse...

Eu hein, daqui de baixo parece que "ela" é "eu" e "eu" é "você". Lembrei de um poema que diz: o seu amor são moinhos de palavras, o meu são chicletes...

Cidadão Cão disse...

¿É assim É?

Anônimo disse...

É Jojô, eu estou com o comentário de "anônimo",acho ele era ela e ela era ele. "Anônimo" está se denunciando, tá parecendo que anônimo é "ele"

joanarizerio@gmail.com disse...

Hahahahahahahahahahaha....

Ai ai, Tia Teca. "Anônimo" é anônimo e pronto. E isto é uma obra de ficção. Beijos

Cidadão Cão disse...

Joaninha, quem sou eu, muchacha, para viver sem culpa. Quem me dera ser como você, comendo chocolates (ops!: caramelos) e recusando strips ao som de chicobuarque.

Quem me dera, pimpolha! Ai de mim!

Como você mesma anunciou, devo estar virando um equinodermo. Acho que é isso: uma água bívia. Invertebrado. Completamente invertebrado, Joaninha.

Ah! Se você rezasse, ia te pedir pelo menos uma novena em minha intenção.

Ó!

Anônimo disse...

Grande, grande texto.
Um beijo...
Lucas

Anônimo disse...

Texto bom. Tem ritmo. Não faz sentido. Por isso mesmo é bom.

Anônimo disse...

oi Jojo!!

Tava com saudade de te ler .... Que massa, adorei!

Antes das férias vim aqui umas vezes mas vc tinha sumido, rs.

Demorei de voltar, as férias cresceram e foram ótimas...

Espero que vc continue por aqui com seus causos deliciosos.

rss
beijos
Sarah
;-)

Anônimo disse...

peixe-banana???

Palatus disse...

Caracas!!!
Me arrepiei aqui...isso já me aconteceu antes...é dejá vù?
Muito bom, isso é poesia,é a vida, é amor também?

Hisham disse...

Muito bom -- o texto conseguiu me cativar. Provocou lembranças (não de eventos, mas de sensações).

Anônimo disse...

...como sempre amei....Tatau