quarta-feira, agosto 03, 2011

Dia de cão

Lugares que conhecem mais o frio que o quente, erram a mão quando chega o verão. Por exemplo Madrid, senhoras e senhores, freguesia onde Nossa Senhora dos ar condicionados não opera. Na fila pra comprar um bilhete sem volta pra outra cidade, eu suava. A fila ia lenta como um escritório de governo. Naquele silêncio, na cinza das horas, lembrei de uma frase que eu li há muito tempo e que nunca confortou ninguém: "o bom das filas é a gente sentir que a vida não é tão curta quanto parece".

Saí. Pensei em sorvete de cupuaçu, delírio de náufrago. Os dedos do pé escorregavam de suor sobre as havaianas. Cruzei a praça, passei ao lado da fonte; dentro dela, um perro callejero sortudo se refrescava. Desisti do sorvete, meu sonho agora era uma pedra de gelo pra eu esfregar na nuca. Até o vestido, tão levinho, era desconfortável. Qualquer roupa é roupa demais onde o termômetro passa dos 30 e a brisa do mar não alcança.

Vi outro cachorro chupando gelo. Que delicadeza de quem deu. Devia ser o dia dos cachorros, pensei com o sol marinando as idéias. Fui pela sombra até perto de casa, à costa dos bares, pra aproveitar a sombra. Parei quando encontrei uma amiga que me convidou para sentar. Sentei naquele barzinho lindo, do lado de fora pra fumarmos um cigarro e meio, e sobre minha cabeça, o borrifador de água que refrescava os clientes. Devia ser meu dia também.

Nenhum comentário: