Papai Noel é Santa
A minha mais remota lembrança natalina me remete a uma infância tardia. Como até hoje faço, eu tentava forjar uma naturalidade de criança diante de situações do imaginário popular como a crença no
O natal em Almadina era um banquete. Tudo do bom, tudo gostoso, fartura de doces suculentos e salgados apetitosos, e o melhor: não tinha hora pra começar a comer! As crianças se empanturravam antes de o peru chegar. Sempre assim. Os presentes, sempre bons. A meninada solta pela praça na fresca noite de natal. A casa lotava de gente, e até certo tempo atrás, uma roda de músicos amadores se formava na sala (entre tios, primos e amigos) e tocava com pandeiro, violão, acordeom e marcação ritmos que nem me atrevo a enumerar.
Mas bizo morreu e a festa perdeu bastante a graça. Nos anos seguintes, os poucos que antecederam a morte de biza e o fim dos encontros almadinenses, eu percebia que se tentava em vão conservar o mesmo entusiasmo. Normal, mas é assim e não volta: termina-se um ciclo para se formarem outros, a vez da terceira geração em torno da segunda, tudo então em seu lugar, em seu tempo e em sua ordem. Mas, é pena, até se formarem novas raízes, demora bastante.
Agora, apesar de meu plano de vida se apresentar para mim, a cada vez, sob uma moldura mais familiar (tradicional, jamais!), não sei se quando chegar a minha vez de ser la nonna, a vovó anfitriã da saudosa família reunida, vou querer que seja assim. Fico pensando que não saberia lidar bem com uma situação dessa. Seria uma vovó neurótica, estressada, não ia querer criança mexendo em minhas coisas? Aliás, vovó?! Como assim? Proibirei todos os pentelhos de me chamarem assim.
(Ai meu Deus, é meio brincadeira, meio verdade.)
Pensei nesse título engraçadinho para entoar um texto mais bem humorado – pra quem não entendeu “papai Noel é Santa”, é porque ele se chama Santa Claus
Mas...
Acho que fui tomada pelo espírito natalino. Nada de reclamações por hoje. Boas festas, meus amores. Ho ho ho.
10 comentários:
Jo, eu fiz o caminho inverso da história. Embora tenha crescido muito com esses valores típicos de família católica do interior, quando criança não curtia muito a idéia de ser enganado e de certa forma rejeitava a idéia do Natal (só pra ser rebelde).
Hoje, macaco velho, aprendi a curtir a data de outra maneira. Fico encantado com a euforia de meus irmãos pequenos. Acho que nada paga a alegria e o brilho nos olhos na hora de abrir os presentes.
Claro que existe essa coisa do consumismo e da assimilação da cultura americana, mas creio que o que realmente importa é reunir. E não seja tão dura com o pobre Santa!
ah, macaco velho, eu concordo com você. acha então que eu não gosto de encontrar minha família reunida depois às vezes de um ano sem vê-la? gosto sim, claro. me divirto, comemoro, rio, adoro dar e receber presentes, me animo com a alegria dos pequenos, lembro que era assim que eu ficava também. é bom, aliás, é ótimo. acredito apenas que o formato vovô-papai-filhinho pode não ser o melhor nesses tempos, ou pelo menos não o mais usual. acho também que meus natais, daqui a uns anos, serão proporcionais ao que gradativamente vem pedindo minha personalidade: mais seletos, boêmios, amistosos e intensos. e quanto à assimilação da cultura americana, existem, insisto, maneiras originais e igualmente emocionantes de reunir pessoas pelo mote natalino.
joana, querida,
desculpe a ausência, mas esse final de ano tem sido pra lá de tumultuado. depois te conto, mas graças a deus, está tudo bem.
sinto-me tão responsável por seu blog! você me deu essa responsabilidade e tenho me sentido uma madrinha omissa, desculpe.
eu me lembro exatamente da cena do meu desencanto natalino. eu tinha sete anos e perguntei para minha mãe à queima roupa se papai noel existia. ou melhor, lancei a questão: papai noel não existe de verdade, né? ela assentiu e eu tenho a impressão de que ali terminou minha primeira infância.
beijos!
Oi, querida Jô, voce viu que legal? A Alessandra veio! Deixa a Soninha descobrir teu blog que ela vem também.
Deixa tentar contribuir com um testemunho pessoal? Nunca fui muito de Natal e nem sei se Freud explica. Às vezes, quando eu achava que "entrava no clima" a volúpia das mídias repetida pelas pessoas nas ruas e casas era tão exagerada que me assustava e intimidava. Sempre, portanto, fiquei ao longe. Vieram minhas opções religiosas e o mar de distância aumentou. Depois, opções religiosas abandonadas, ficou só o ceticismo. Mas, mas...sei lá o quê, de uns tempos pra cá, confesso, comovo-me com o Natal. Não com nada religioso, não com árvores, luzes e o "Santa Claus" - que nunca entendi como é que conseguiram tanto sincretismo - e sim com alguns sorrisos infantis, ansiosos e os lindos olhos brilhantes de tantas e tantas crianças. Com os sorrisos e olhos de tantas pessoas adultas também, acredita? Com algumas canções que a gente sempre recupera. Acho que dá talvez pra gente encarar a vida assim: a mesa está posta e o vinho está servido. É pra voce. Se voce não gozar do que aí está, ninguém mais o fará, pois é tudo para voce, so, forget your troubles, comme on, get happy! É por aí que, um dia depois, te desejo e pra toda tua família e pra todo mundo que vem aqui e pra toda Bahia, que nos deu a todas e todos o melhor presente de Natal com o resultado eleitoral, permita: Querida Jô, Feliz Natal! Ah, pra terminar sem perder o costume, deixa cantarolar "Anoiteceu, o sino gemeu, a gente ficou feliz a cantar! Papai Noel, vê se voce tem a felicidade pra voce me dar..."
Sou avesso ao Natal.
primeiro porque não penso em um dia apenas para desejar a quem quer que seja algo de positivo: sou patidário dessa postura de vida em qualquer tempo, de toda forma. natal hoje é mero consumo. Um Jesus capitalista cortado em postas e servido em várias ceias forjadas.!à margem disso uma imensa hipocirsia, já cultural e tradição de família, de que tudo se resolverá e será eternmente lindo depois do dia mágico. como se perdão e tolerância não fossem provenientes de uma soma de valores e conquistas...
MAS ENFIM... QUE PAIRE O NATAL SOBRE O LODO... e que o natal seja eterno... entre nosso espírito de porco e os perus inertes de pernas abertas, devidamente comidos pela fome de consumo... amém!
se amarro no natal!
é a comemoraçao da data errada do nascimento de um cara q eu n teria chance de conhecer nunca, so no ceu e se eu for realmente pra la! =P
enfim, é melhor pensar nele como dia do panetone, me empanturro de panetone, queijo e vinho ate o outro dia, e tudo fica bem mais bonito!
ahhh, n sei se alguem aqui comentou sobre, mas é q tive preguiça(algo normal em mim) de ler tudo pra conferir, a roupinha do noel e as cores da cocacola n sao mera coincidencia. antes o "santa" era marrom e verde com cara de malvado, mas numa campanha publicitaria(de muito, mas muito tempo atras mesmo) a cocacola o representou super meigo e com as cores do produto, e desde entao, o noel é essa coisa estranha... =/
O Natal já se foi... mas adorei encontrar novamente esse texto...
(...) Amanhã à meia-noite volto a nascer. Você também. Que seja suave, perfumado nosso parto entre ervas na manjedoura. Que sejamos doces com nossa mãe Gaia, que anda morrendo de morte matada por nós. Façamos um brinde a todas as coisas que o Senhor pôs na Terra para nosso deleite e terror. Brindemos à Vida - talvez seja esse o nome daquele cara, e não o que você imaginou. Embora sejam iguais. Sinônimos, indissociáveis. Feliz, feliz Natal. Merecemos.
Mais uma carta para além dos muros
Caio Fernando Abreu - Pequenas Epifanias
(O Estado de São Paulo, 24/12/1995
alessandra:
você é categoricamente a primeira e única madrinha, mas não esquenta que sua afilhada compreende suas necessidades. tomara que volte sempre pra averiguar meu desempenho, ainda que demore um tiquinho. beijos!
mauro:
se a soninha aparecer vai ser uma festa (e uma honra! já bastava você e a alessandra!) vou me comportar, vai que ela resolve vir hoje?
é sempre tão legal encontrar tanta sensibilidade nos seus comentários. é que vejo muita agressão e exagero pra uma coisa tão inofensiva. o natal é inofensivo, e embora não compartilhemos da crença que há por trás dele, podemos ainda aproveitar o que ele tem de interessante a oferecer. os gestos sinceros, as atitudes bondosas, o clima, a união, tudo isso eu aceito de bom grado, independente do nome que se queira dar. não faz mal! na verdade, divagando pela história, parece que eu inverto a ordem desse processo: se foi inventado (sem entrar em méritos religiosos) o símbolo natalino, foi primeiro pra servir de mote pro cultivo de alguma coisa (no caso, algo de bom: união, festejo, solidariedade, alegrias).
eduardo:
respondendo a este e ao seu outro comentário, só me resta declarar uma única coisa: você é escorpionino de corpo e alma! que maravilhosa inconstância de humores, claro que tinha que ser meu primo... concordei com seu esbravejar e com seu retificado comentário poético. bravo!
mimi:
obrigada pelo acréscimo histórico! com tanto comentário que recebo, daqui a pouco inauguro o meu próprio wikki, me valendo da moda en-ci-clo-pé-di-ca (ainda bem que isso foi escrito, se fosse dito, não sairia inteiro) que parece estar pegando na internet.
foi na ocasião inaugural do meu desgosto natalino que eu descobri essa informação, a de que papai noel era um mero produto publicitário. lembro de minha professora de artes, enfática (maquiavélica), perguntando à perplexa turma de quinta série: "não vão me dizer que nunca tinham pensado nisso? porque acham que o vovô mais simpático é o da coca-cola?".
Ah, o Natal.. que bosta, hein?! A gente vai crescendo, e tudo vai perdendo o encanto. A gente "perde" (melhor seria usar a palavra muda) o espírito natalino, a ingenuidade, a surpresa ao abrir um presente... Começa a pensar no mundo, nos porquês. A idéia de confraternização é boa, e tal, mas o brilho nos olhos das crianças podia ser criado por outras coisas, diferentes de carrinhos de controle remoto com motor 9.0 turbo ¬¬
É triste, po.
(melhor eu parar aqui, porque se continuar a escrever, vai sair uma bíblia! auhahuaha)
beijos, minha Jojo-Cake (assim tinha no cardápio de um restaurante que eu adorava ir. Jojo Cake era como eles chamavam o Petit Gateau)
Jô, você me fez relembrar uma poesia de Walt Whitman que sempre que leio me faz pensar a velhice do meu Vô, seu bizo. Ao dizer da velhice ele escreve : "Eu conheci um homem, um fazendeiro comum, pai de cinco filhos(...)Era um homem de explêndido vigor, uma calma, um encanto de pessoa(...) Contava mais de oitenta anos de idade(...) Todos que o víam gostavam dele mas nâo por concessão , gostavam dele com amor pela pessoa(...)Quando saía com seus cinco filhos e muitos netos para caçar ou pescar, a gente o distinguia como o mais forte e bonito do grupo, e a gente bem que gostava de sentar-se no barco ao lado dele, de modo que ele e a gente pudesse bem sentir os toques um do outro".
Postar um comentário