sexta-feira, agosto 28, 2009

Fotogenia


Então, para ajudar a promover o lançamento do livro de poemas do meu colega Nílson Galvão, eu recomendei o evento em uma publicação interna do trabalho que sairá na próxima semana. De quebra virei garota-propaganda, com direito a foto e tudo.

E essa é a parte chata da história: fotografia. Porque mais ou menos desde que eu deixei de me parecer com um bebê fofinho, conto nos dedos as imagens de mim em que eu não lembre vagamente uma besta fera.

Ok, foi exagero. Talvez na maioria das fotos eu esteja mesmo com cara de quem pegou uma séria doença infecto-contagiosa. Ou mesmo, pra ser factual, talvez eu pareça a personificação da gripe suína – como na foto em que, com seis anos, eu apareço de braços abertos, boca aberta e narinas assustadoramente dilatadas.

A menina entrou na sala e apontou o revólver, digo, a câmera, para mim, não sem antes perguntar se eu não iria me arrumar um pouquinho. Quase que eu digo “não adianta não, menina”, mas ao invés, chamei minha colega, que passou rímel nos meus cílios de abano e tanta sombra em pó nas pálpebras que, se pingasse uma gota d’água, aquilo viraria a mais forte argamassa e nunca mais eu abriria esses lindos olhos de novo.

Pronto, pronta. Luxo!, diria minha amiga. A fotógrafa só pediu que eu encostasse na parede. “Vai ser uma 3x4, sorria”, ela disse.

Ao final de cinco cliques, posso dizer que tínhamos prontas: uma foto para a propaganda da OMS sobre os níveis de alerta da nova gripe, uma sobre os efeitos de alimentação junkie + vida sedentária, a foto do “antes” para o próximo programa “10 anos mais jovem”, uma pra campanha de vacina contra febre amarela e, como decretou a mesma colega que me maquiou, um poderoso espanta-mosquitos!

sexta-feira, agosto 21, 2009

O sinal (do fim) dos tempos

Eu acordo de manhã e sinto um cheiro estranho no ar. Vou me pegando pra checar se cada parte do meu corpo continua grudada em mim. Faço uma revisão de como terminou a noite: me olho no espelho (olhos borrados, quase uma tela surrealista) e checo a memória pra ver se houve a chance do homem do saco ter posto droga no meu copo. Tudo parece bastante regular, mas o cheiro remanesce. Cogitabunda, beijo os gatos, deixo a casa, ganho a rua quente do inverno soteropolitano e sigo o caminho até o ponto de ônibus.

Nada parece diferente, mas que cheiro é esse? Um cheiro doce. Enjoado. Pego o ônibus e escolho justo o assento onde a esburacada camada de ozônio canaliza não raios, mas flechas pontiagudas de sol sobre este corpo coberto pela preta, cruel e quente indumentária social trabalhística. Até então, nem pista de onde vinha o olor, o odor, o aroma, o cheirinho (que rico nuestro português!), a droga do fedor açucarado que me acordou e segue meu rastro cidade afora. Chego ao escritório e me distraio; checo então os jornais on-line.

E não mais que de repente, EUREKA. Descobri! Madre mia del amor hermoso, como eu não suspeitei? Não consegui ouvir sequer um trote dos quatro cavaleiros do apocalipse, ou os uivos de cães desesperados no mercado do peixe em noite de duas luas? Os círculos de fogo do inferno aquecendo suas caldeiras, maquininhas de fazer demônio a todo o vapor e eu, impassível? Previsões dos astros, bruxas, curandeiras, fadas do mal, nostradamus passaram por mim e eu não vi. Mas lá estava a marca superior da maldade, o sinal definitivo de que os tempos, minhas criancinhas, esses tempos mudaram e que o pior está por vir. E assim ele dizia:


Fãs esgotam primeira edição da biografia do Chiclete com Banana


Pronto, Mundo. Pode se lascar em bandas agora.